sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Metafísica da vida cotidiana

(das impertinências)

Cedo ou tarde se constata
Que apesar de todas as constatações
A vida se recria sem cessar
Alheia às nossas verdades
E pouco afeita às lamentações

Há uma beleza indecente
No próprio fato de existir
Uma espécie de ofensa sagrada
Que impõe a todos o amanhecer

Condenados que estamos
Ao imperativo de estar aqui
Nem a morte nos libera desta afronta
Pois morremos cientes de ter existido
E ignorantes da razão d’existir

E se mesmo assim confesso amar a vida
Não cesso de me sentir ridículo
Como quem se entrega temeroso da acolhida
Como quem não contém o riso em pleno funeral

E é tão bom estar vivo!

Mas tão ingênuo gostar disso tudo
Que mesmo diante do gesto mais puro
Não escapo a certa expressão de nojo

Assim como as alegrias profundas
Carregam consigo melancolia
E tornam aflito meu coração

                                                    Rodrigo de Barros

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