segunda-feira, 27 de junho de 2011

Psicologia da saúde e Educação: um diálogo com a vivência educacional


"A principal tarefa na vida de um homem é a de dar nascimento a si próprio." 
(Erich Fromm)

Depois de muito me questionar a respeito de que ou de quais situações, historias, experiências ou mesmo matérias jornalistas eu discorreria o presente relato eu não pude deixar de ser impelida em direção a minha própria vivência com as discussões travadas em sala de aula. Apesar da aparente discrepância entre os lugares e os posicionamentos acredito que a tentativa de diálogo que me proponho aqui se distancia ao mesmo tempo em que aproxima perspectivas.
Há mais ou menos uma semana atrás o coordenador disciplinar da escola na qual eu realizo uma pesquisa me procurou com uma demanda referente a uma aluna da escola. Com o intuito de que eu como futuro(a) profissional de psicologia me dispusesse a conversar com aluna, que segundo ele não se sentiu a vontade para lhe contar ao certo o que se passava com ela, queria ser transferida da escola e voltar a morar com a mãe visto que o lugar onde atualmente morava não havia mais condições dela estar, aparentemente aquela aluna estava sofrendo algum tipo de violência. Devido a minha função realizada na escola não puder auxiliar como pretendia o coordenador, mas tentei por outras formas indicar uma forma de resolver aquela demanda.
Este breve acontecimento me impulsionou em direção a possibilidade de pensar as relações entre saúde e educação. Como pensar o lócus escolar e suas necessárias articulações com a promoção de saúde? Para tanto nos cabe contemplar não só o sujeito em constante formação humana como um complexo que não se esgota nas relações de ensino-aprendizagem como a saúde enquanto uma referencia não apenas biológica ou física, mas que envolve as dimensões psicossociais do humano.
As cisões características do “progresso” do conhecimento, sua compartimentação em campos específicos, a segregação dos saberes, como nos aponta Spink (1992) característico de todo esforço cientifico em épocas passadas e até o presente, que na tentativa de expansão acaba por reduzir a unidades desconexas de saberes que não sabem ou não se movimentam na direção de dialogar entre si são um dos motes da nossa recorrente pratica que enxergar o humano compartimentalizado, em questões cognitivas , intelectuais, sociais, biológicas, psicológicas entre outras. E com isso a existência de diferentes áreas do conhecimento responsáveis a presta “cuidado” a cada particularidade do sujeito humano. A escola trata das questões cognitivas referentes à aprendizagem, a socialização e a civilidade, as instituições religiosas debruçam-se sobre o aspecto espiritual, já outros espaços como unidades básicas, hospitais são responsáveis pelas “doenças”, com o papel curativo, atenção e cuidado. Para além das outras divisões disciplinares dentro destes locais que acarretam em uma problemática um tanto aproximada proponho me deter numa discussão mais geral.  
A instituição escolar que a meu ver constitui-se como o lócus por excelência de formação humana, onde se dá os processos de produção de subjetividade, muitas vezes exclui e desvalorizar as outras dimensões humanas em seu seio, ausentando-se de seu compromisso com a promoção da saúde o lócus de ensino-aprendizagem se dissocia então das outras áreas da vida, seus professores, alunos, deixam suas histórias, seus desejos da porta pra fora, e seguem suas rotinas diárias como sujeitos outros, discretizados de seus contextos.
A saúde como uma complexidade humana que menos tem haver com um estado de harmonia que com um processo de constante reajuste, meios de remodelação, isto é, a capacidade de criar normas, não no sentido disciplinar, mas enquanto modos de subjetivação em constante produção. A restrição da capacidade normativa caracteriza o adoecimento.
O contexto escola tem se revelado como um propício desencadeador de adoecimento e não de promoção de saúde.  O recente acontecimento do assassinato em massa aqui no Brasil por um ex aluno de uma escola, fez a sociedade parar, a gemer diante dos meios de comunicação. O que mais se pode ver foi o movimento intenso em direção a perfis psicológicos, diagnósticos psiquiátricos, e explicações pautadas num saber hegemônico. Não se viu discussões que para além de culpabilizar sujeitos retratassem em suas pautas a importância da escola na formação do individuo, os modos de subjetivação que o formato de ensino atual reproduz e com isso os modos de adoecimento. Não seria o caso de buscar apenas causas, mas de refletir sobre como acontecimentos alarmantes como esses encobrem a recorrência de outros fatos menos drásticos, mas que nos mostram uma sociedade doente que pode até aprender a ler e escrever, passar nas universidades, mas carrega em si marcas que provavelmente nunca foram reconhecidas, nunca foram vistas nem escutadas. E a nos perguntar: Como se dão esses processos de adoecimento e que contribuição teve a escola para tanto? Que formatos de ensino são estes que marcam a constate violação da saúde?
A escola como uma possível engrenagem de mudança social vem falhando nisso, reproduz a exclusão em sua estrutura, padroniza comportamentos adequados e inadequados, funcionamentos ótimos ou não, e medicaliza aqueles desviantes que provavelmente nunca se enquadrarão ao ideal, harmônico.
No caso da adolescente citada primeiramente que provavelmente não tem outros espaços para expor sua problemática também nos mostra como a separação do sujeito das outras dimensões de sua vida é uma proposta inviável, o aluno não deixa suas questões ao ir à escola, está atravessado por elas e não pode ser compreendido fora desses lugares. Da mesma forma não existe um sujeito a histórico, descontextualizado, é em sua totalidade que o sujeito se presentifica nas relações de ensino estabelecidas no ceio escolar, e necessárias a produção de conhecimento.
Assim me proponho a pensar quais modos de intervenção, outros que aqueles estabelecidos em espaços como hospital ou até mesmo nas UBSs, podem ser viabilizados no espaço escolar. Da mesma forma que saúde publica não deve ser dissociada dos processos de produção de subjetividade, que o saber oficial não deve debruçar-se sobre doenças, mas sobre sujeitos em sua totalidade e que as relações entre saúde e doença devem estar a todo tempo tratadas dentro de um contexto dialógico entre saberes, os espaços educativos e de formação humana também devem constituir as demandas de atenção básica a saúde, e alvo de políticas publicas específicas. 
Bela Malta

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